Foto: Daniel Guimarães
O Teatro Oficina, na Rua Jaceguai, no bairro do Bexiga, em São Paulo, será tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nesta quinta-feira, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Projeto moderno de revitalização da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, o Teatro Oficina é um dos mais importantes espaços de experimentação teatral do país desde os anos 1960.O tombamento nacional do Oficina foi um pedido do diretor teatral José Celso Martinez Correa, de 72 anos, ao então ministro da Cultura Gilberto Gil, em 2003. Correa temia a anunciada construção de um shopping center pelo grupo do empresário Silvio Santos, na área vizinha. O empresário chegou a tentar adquirir o teatro, mas enfrentou resistência do diretor. “Construir o shopping aqui é como fechar o vão livre do Masp”, disse. Com o tombamento, qualquer edificação na vizinhança, a partir de agora, deverá ter seu projeto submetido ao Iphan e não poderá ultrapassar certas dimensões, além de não poder impedir a iluminação no teatro.
O estudo de tombamento ressalta, além do caráter artístico do espaço, a importância histórica para o teatro brasileiro e seu papel de resistência durante o regime militar no Brasil. Em 1984, Lina Bo Bardi fez o projeto de reformulação arquitetônica do antigo imóvel que abrigava o Teatro Oficina, atingido por incêndio em 1966. A arquiteta, 11 anos antes, já tinha feito cenários para peça de Brecht em montagem de José Celso. A fachada típica das residências do Bexiga foi mantida, mas a mudança no interior foi revolucionária, com o palco longitudinal e a parede envidraçada de 150 m².
O Teatro Oficina, na década de 1960, foi um importante centro de vanguarda e de resistência aos anos autoritários do país. Dedicado à tradução metafórica dos anos de ditadura, a partir de 1967, com a peça “O Rei da vela”, o Teatro Oficina desenvolveu-se com o “espetáculo-manifesto”, tendo sido interditado pela Justiça Federal. O teatro guarda ainda toda a memória de sua trajetória contestadora e vanguardista. Isso pode ser visto em recortes de jornais, cadernos de ensaios, manuscritos, impressos, fitas de áudio, filmes, vídeos, cartazes e fotografias.
Postou Cristina Braga – Teatro Brasil