Imagem inusitada do Elevado, retratada no filme
Em tempos de mais uma proposta de demolição do polêmico Elevado Costa e Silva – o popular “Minhocão” – e no Dia Mundial do Meio Ambiente, nada melhor do que mencionar a estreia do documentário Elevado 3.5. Vencedor do festival É Tudo Verdade 2007, só agora chega ao cinema.Em 1969, o Elevado era anunciado pelo então prefeito da capital paulista, Paulo Maluf, como “A nova solução de sistema rodoviário da cidade”. Há um mês, o atual prefeito, Gilberto Kassab, decretou sua demolição em no máximo 15 anos. Esta não foi a primeira ideia, já que a construção é acusada de ter contribuído em grande parte para a deterioração da região central da cidade, e dos antigos bairros elegantes de Campos Elísios e Santa Cecília, e há décadas tem recebido projetos alternativos a ele.
Todos os dias, milhares de automóveis circulam por seus 3,5 quilômetros, no “monumento” que privilegia o transporte individual, tendo aliviado o trânsito e se transformado na principal ligação entre as zonas oeste e leste.
Visto de cima, o Minhocão parece embrenhar-se pela chamada Selva de Pedra. Visto de baixo, parece exibir as entranhas de um bicho urbano caótico e desumano. E visto da janela de quem sabe que o caos urbano passa literalmente em frente? São essas as visões que o documentário Elevado 3.5 revela.
Cenário de filmes e comerciais – Não é a primeira vez que o Elevado é cenário de filmes e comerciais, mas com certeza é a primeira vez que é retratado como personagem principal. A equipe de diretores e produtores não só filmou ali, como também o usou para exibir o filme no último domingo. Uma estrutura com tela, 500 cadeiras, sistema de som e projetor de cinema foi montada no viaduto. A surpresa foi que surgiram 2 mil espectadores. Transeuntes subiram o Elevado e moradores dos prédios vizinhos pararam para ver o filme, munidos até mesmo de tigelas de pipoca.
Nenhum dos diretores do filme – Maíra Bühler, João Sodré, Paulo Pastorelo – é cineasta de formação. Ela é antropóloga. Eles, arquitetos. “Nosso histórico contribuiu para que a filmagem fosse calcada em uma pesquisa muito bem embasada. Além de termos convivido com o local – tínhamos um escritório na Santa Cecília –, nosso olhar se voltou sempre para o fator humano, e não somente para o caráter arquitetônico da questão”, comenta Sodré.
O fator humano deu cara a esse mal controversamente necessário. Pessoas “comuns” de várias origens e moradores de prédios vizinhos ganham voz e rosto em Elevado 3.5. Pessoas que dividem seu dia a dia e humanizam o Elevado de diferentes formas. Há até quem declare sentir falta do barulho de buzinas e motores nos horários em que permanece fechado (à noite, domingos e feriados).
Em uma referência clara, o filme é quase um Edifício Master (de Eduardo Coutinho) sobre muitos edifícios, fazendo verdadeira arqueologia da memória paulistana. “O trabalho do Eduardo Coutinho sempre nos inspirou. Quisemos revelar quem são os moradores que ‘têm janela para o Elevado’, que eles abrissem as portas de casa para nós e contassem como aprenderam a viver e a se afeiçoar a ele”, explica Sodré.
Elevado 3.5 está em exibição exclusiva no Espaço Unibanco de Cinema, na Rua Augusta, 1.475.
Fontes: Estadão e UOL.
Postou Laila Guilherme – Cinema Brasil
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