Carinhoso foi composto por Pixinguinha em 1917.
O compositor, que na ocasião tinha apenas 20 anos, deparava-se com o rigorismo dos músicos e críticos da época, que cobravam um esquema preciso para classificar uma música como choro: a forma rondó (A-B-A-C-A).
Um choro tinha de ter três partes, Carinhoso tinha duas.
Sem coragem para apresentá-la, tal como era, a música ficou engavetada. E não foi por pouco tempo, a composição ficou guardada por uma década!
Em depoimento dado em 1968, para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, Pixinguinha justifica: "Eu fiz o Carinhoso em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes). Então, eu fiz o Carinhoso e encostei. Tocar o Carinhoso naquele meio! Eu não tocava... ninguém ia aceitar".
"O Carinhoso era uma polca, polca lenta. O andamento era o mesmo de hoje e eu classifiquei de polca lenta ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para chorinho".
Carinhoso - Pixinguinha, Benedito Lacerda e regional
Passados mais de dez anos, em 1928, a música foi gravada pela orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Como previa o autor, a composição foi duramente rebatida por um crítico (não muito gabaritado), que acusou Pixinguinha de abusar das influências musicais yankes.
Após essa primeira gravação, a música ainda sem letra, ganhou mais duas gravações: uma em 1929, pela Orquestra Victor-Brasileira, dirigida por Pixinguinha, e a outra em 1934 por Luperce Miranda, bandolinista.
Mesmo com as gravações sendo tocadas pelas rádios, a música até meados da década de 30 não tinha caído no gosto popular.
Em 1936, Carinhoso ganha uma letra composta por Braguinha.
A letra feita às pressas, de um dia para o outro, simples, e ao mesmo tempo tocante, atendia ao pedido urgente de uma cantora, Heloísa Helena, que apresentaria a música no espetáculo "Parada das Maravilhas".
Apesar de já poder ser cantada, a música não despertava interesse nos grandes intérpretes da época. Francisco Alves foi chamado pela gravadora para gravá-la, mas não aceitou o convite. Francisco Galhardo ficou de gravar, mas no dia “mandou o Lima", como se diz no meio, não compareceu.
Por fim, a gravadora convida Orlando Silva.
O intérprete achou que os versos de Braguinha não iriam emplacar e chegou a pedir que seu irmão encomendasse ao compositor Pedro Caetano uma outra versão. Mas acabou gravando a versão de Braguinha.
No entanto, após o sucesso da música, Orlando Silva passou a afirmar que fora ele quem fizera o pedido de letra a Braguinha.
Ouça diretamente, no YouTube, Orlando Silva contando:
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Carinhoso - Orlando Silva
Essa versão foi desmentida por Pixinguinha e pelo próprio Braguinha.
O fato é que Carinhoso, graças a este casamento harmônico e delicado entre letra e música, transformou-se num clássico, conhecido internacionalmente.
A música é constantemente regravada. E é sucesso em qualquer tempo.
Apresentamos aqui uma versão de Carinhoso gravada pela cantora, atriz e dançarina norte-americana Jane Powell, na comédia musical "Nancy goes to Rio" (1950). O título do filme no Brasil é Romance Carioca. A versão de Carinhoso em inglês recebeu o nome de Love is Like This.