foto divulgação
Cristina Braga
Neste monólogo, a atriz Beth Goulart encarna Clarice Lispector, por meio de texto extraído de depoimentos, entrevistas, correspondências e trechos de seus livros Perto do Coração Selvagem e Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, além dos contos Amor e Perdoando Deus.
A peça é uma declaração. Há muitas formas de se dizer algo profundo, doce e alarmante. Um grito, uma frase feita, um sorriso, um olhar. Mas Beth Goulart preferiu a profundidade do teatro. Falar da alma humana. Declarar a alma humana. Aliás, ao falar de uma alma como a de Clarice Lispector, parece que se fala de tantas outras, senão de todas.
Beth conseguiu mostrar uma Clarice próxima do espectador, quando mescla a profundidade de sua poesia, de suas frases ricamente pescadas em sua literatura esquecida por muitos brasileiros afoitos aos romances fáceis do mercado editorial. Beth está estupenda, não só porque ganhou o prêmio Shell de melhor atriz em 2009, mas porque mostra realmente uma atriz madura, verdadeira, profunda. Uma grande dama do teatro brasileiro.
A iluminação do espetáculo leva qualquer um ao delírio. É fácil entrar no mundo de Clarice, quando Beth se torna não mais a escritora dando seu depoimento de vida, mas uma de suas personagens mais representativas de seu universo anímico: Joana, de Perto do Coração Selvagem. A iluminação acompanha esta mudança de personagem de forma incrível.
Os jogos de saída da personagem Joana, para a personagem Clarice, lembram muito os contrapontos do próprio livro, quando Joana contrapõe as experiências íntimas de menina com as da mulher adulta. Com uma música melancólica e arrebatadora, este é talvez um dos melhores espetáculos de teatro nos últimos anos nos palcos brasileiros.
Local: teatro do Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 - Centro - São Paulo
Quando: Até 20 de junho, às sextas e sábados, 19h30; domingos, 18h
Direção: Amir Haddad
Direção: Amir Haddad
(Colaborou Luis Marcio Arnaut de Toledo)